Mercados e Democracias

Artigo no “New York Times” alerta sobre riscos para as democracias
Pressão “injusta” dos mercados obrigou Portugal a pedir ajuda de que não precisava

Público Online

Mesmo sem querer escamotear ou suavizar o facto de a coisa pública portuguesa ter sido alvo de uma gestão tipo “assalto à mão armada”, esta opinião não deixa de fazer algum sentido.

Mesmo que a visão romântica do arrendamento português, defendida neste artigo do NY Times, seja um mito simpático e algo irrealista, o papel dos mercados nesta crise parece ser determinante. A ideia de que temos que “acalmar” e “transmitir confiança” aos tais mercados, não se percebendo bem como ou a quem, foi um dos principais temas da agenda mediática pré FMI.

Há muito que imperam sinais de que a globalização, duas décadas após a queda do muro de Berlim e mais de quinze anos depois do grande boom da Internet, tinha criado um monstro.
O dinheiro sempre encontrou formas de circular e furar as barrerias proteccionistas que os estados foram construindo ao longo do tempo. Basta rever as preocupações monetaristas dos Reis medievais para perceber o poder, a capacidade de circulação e, sobretudo, o impacto do dinheiro. Porém, a globalização colocou o capital financeiro num nível antes impensável.

Ao mesmo tempo que rejubilávamos perante a hipótese de viajar livremente para qualquer parte do mundo, que conseguíamos estar a um clic de tudo e de lado nenhum, que comprávamos barato coisas produzidas em destinos exóticos e que os nossos empresários esfregavam as mãos perante a hipótese de deslocarem a sua produção para países em que ainda eram possíveis jornadas de trabalho de 18 horas, o dinheiro movia-se furiosamente.

O capitalismo financeiro é o sistema sanguíneo da globalização.
Já existe há muito tempo e sempre actuou com uma lógica totalmente oposta à das fronteiras políticas e dos interesses dos estados.
De alguma forma, o capitalismo financeiro sempre tendeu para a globalização e agora, num mundo verdadeiramente globalizado, tomou a dianteira.

Filipe de França, quando liquidou os Templários, ou os Reis do Século XVII, quando extinguiram a Liga Hanseática, sabiam que o Capitalismo Financeiro é um monstro voraz, que tende a ser perigoso para a organização política dos estados e, principalmente, para a sua independência.

Ainda mais perigoso que o capitalismo financeiro, é termos que o enfrentar com uma classe política totalmente inepto e um sistema político que sofre de um acentuado défice de democracia.

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