Razões para a Abstenção (Parte I)

Os Partidos da 2ª República

PS
Evoluiu da esquerda dos anos 70, fortemente influenciada pelo movimento laboral e por uma visão intervencionista do estado, para um sucedâneo da terceira via, que conjuga estado social com liberalismo.
Possui uma rede clientelar extremamente vasta, que inclui juízes, o lobby da construção e uma enorme quantidade de altos quadros, que depende largamente do estado.
O PS parece mais empenhado em garantir que estes grupos de pressão se alimentam do estado social do que em assegurar as regalias que o dito estado social promete aos seus cidadãos.
Foi esta submissão do PS aos seus grupos de pressão, associada ao ilusionismo orçamental das PPPs, do sector empresarial e das SCUTs, que abriu o caminho para a actual bancarrota.

PSD
Partido ideologicamente confuso, entalado entre a esquerda moderada e o liberalismo puro e duro.
Á semelhança do PS, os sociais-democratas possuem uma monstruosa rede clientelar, também ela apostada em consumir recursos do estado.
Aliás, as diferenças entre ambos os partidos são mínimas e, na prática, estão sujeitos aos mesmos grupos de pressão. A única clivagem, e é bastante ténue, parece ser a crítica moderada dos sociais-democratas a alguns sectores do estado social e uma acentuada tendência para a privatização de serviços do estado, que acaba invariavelmente por beneficiar alguns lobbys empresariais associados às cúpulas do partido.
A ausência de uma visão para o país e a perspectiva meramente clientelar da economia privada contribuíram decisivamente para a actual situação de crise.

PP
Mescla ideológica que inclui neo-liberais, conservadores, direita ultra-montana, democratas cristãos e resquícios de provincianismo salazarista.
Esteve recentemente no poder e não se pode dizer que tenha feito boa figura!
Envolveu-se em negociatas suspeitas com particulares, como o caso dos submarinos e as suspeitas recentes em relação ao financiamento do partido.
Não só se recusou a contrariar o sistema de redes clientelares montado pelos partidos do regime, como tentou impor o seu, que, tendo em conta o número reduzido de altos quadros, acabou por franquear as portas de muitas empresas públicas e serviços estatais a gente sem qualquer competência técnica ou política.

PCP
Partido declaradamente marxista-leninista, que, ao contrário da generalidade dos seus congéneres europeus, parece ter resistido incólume ao colapso da União Soviética.
Apesar de os Comunistas serem quase uma reserva moral da República, com uma ética política que é por todos reconhecida, esgotam-se no protesto e num modelo de representação altamente sectorizado, em que muitos eleitores, apesar denão se conseguirem rever na política do partid, estão dispostos a reconhecê-lo como seu representante em matéria de direitos laborais.
O PCP, malgrado a sua utilidade na defesa dos trabalhadores e das conquistas do estado social, é um anacronismo histórico. A forma como os comunistas olham para a economia , assente na economia industrial dos finais do século XIX e no mundo da guerra fria, com planos quinquenais, dirigismo estatal e fronteiras alfandegárias, revela-se totalmente desadequada para compreender a complexidade dos modelos económicos actualmente em vigor.
Poucos são os eleitores do PCP que o querem ver a assumir as rédeas do poder.
O PCP oscila entre a utilidade ocasional, como forma de protesto e na defesa intransigente de determinados direitos e regalias, e a redundância absoluta, típica de um partido que se integra num sistema que lhe é estranho e que em certa medida nunca poderá aceitar.
Mesmo umm crítico feroz da actual economia não pode deixar de se interrogar como é que a fórmula marxista, volvidos cerca de 150 anos, pode ser eficazmente aplicável a um modelo de criação de riqueza substancialmente mais complexo. .

BE

É o partido do protesto por excelência.
Fruto de uma união entre diversos partidos de extrema-esquerda e movimentos progressistas, tendo por epicentro o PSR, que até meados dos anos 90 tinha conseguido cativar uma importante franja do eleitorado urbano.
O Bloco de Esquerda foi extremamente importante para introduzir temas fracturantes e leis sociais que, apesar de serem já relativamente comuns no espaço europeu, o imobilismo dos partidos do poder teimava em não as introduzir na agenda política.
Mas, findo este período e cumprida a sua missão histórica, torna-se por demais evidente que a substância do Bloco é quase nula e se esgota quase totalmente nestas causas fracturantes.
O Bloco tem uma perspectiva da economia algo semelhante à do PCP, mas sem a sólidez da fórmula comunista, desenvolvida numa fase mais avançada da Revolução Russa.
A extrema-esquerda tem pouca tradição na área económica e, das poucas vezes que logrou atingir poder, o seu plano económico confuso ou impraticável acabou por ser derrotado pelo pragmatismo e solidez dos planos económicos do comunismo tradicional.
Embora seja um excelente partido de protesto, quando colocado perante problemas inerentes ao próprio sistema, revela-se uma forma inconsequente e, em última análise redundante.

Como se pode ver, os partidos não são parte da solução, mas sim o próprio problema.

Cada vez que participamos num acto eleitoral português, estamos a dar vida a um sistema irreformável e que assenta na democracia indirecta.

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